#12. Produzir mudança: impulsionar o crescimento de uma rede

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#12. Produzir mudança: impulsionar o crescimento de uma rede

Data:

26

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01

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2025

Autor:

Lucy Medlycott

Palavras-chave:

rede, mudança, reconhecimento
#12. Produzir mudança: impulsionar o crescimento de uma rede

A ideia de formar um grupo coletivo de pessoas com ideias comuns não é nova. Não é radical. Não é revolucionária. Também raramente é simples. Mas pode ser transformadora e extremamente poderosa.


Existem muitos tipos de redes: redes que se formam para conectividade social - como, por exemplo, um grupo de amigos. Redes que se formam a partir de interesses comuns - como um clube de leitura ou uma equipa desportiva. Redes que se formam por razões económicas - como o crescimento de ligações comerciais ou parcerias. Redes que se formam em situações de emergência - como uma equipa de resgate multidisciplinar ou uma resposta comunitária. E redes que partilham um propósito comum, cujo objetivo é criar mudança.


Nos últimos quinze anos, nós, na Irlanda, construímos uma rede de artistas de rua e de circo que partilham uma voz coletiva e um propósito comum. Vou partilhar convosco alguns dos passos principais que seguimos ao longo dessa jornada, que podem ser aplicados em muitas circunstâncias diferentes.


O primeiro passo foi uma autorrealização individual: perceber que a nossa necessidade particular não estava a ser satisfeita em nenhum lado e que, se não fizéssemos algo por isso, ninguém mais o faria. Compreendemos que os nossos sonhos esperançosos de sermos artistas capazes de gerar mudança provavelmente murchariam e morreriam se não tomássemos uma ação afirmativa. Essa ação baseou-se na crença de que o que trazíamos como artistas tinha, de facto, o potencial de causar um impacto social real e de que a nossa arte estava, verdadeiramente, a quebrar barreiras. Mas porque é que ninguém mais conseguia ver isso? Precisávamos que algo mudasse, mas como? Percebemos que uma só voz não era suficiente, que a nossa necessidade individual não era suficiente, que o "eu" sozinho não era suficiente. Precisávamos de uma multiplicidade. Precisávamos de uma rede.


Formar uma rede implicou, inevitavelmente, sacrifícios. Colocámos todas as nossas ideias sobre a mesa, prontas para serem descartadas caso ninguém mais as partilhasse. Foi um risco que tivemos de correr. Sacrificámos as nossas ideias e sacrificámos o nosso tempo, discutindo longamente, com paixão, com todas as pessoas que conhecíamos no setor na Irlanda.


Em outras palavras, começámos a ativar o setor. Percebemos que, se queríamos criar mudança, não podíamos lutar apenas pelo nosso próprio espaço - tínhamos de cobrir todo o terreno. Já havíamos passado muito tempo a lutar isoladamente e sem grandes resultados, por isso sabíamos que, para realmente criar mudança, precisávamos de uma tribo.


Formar uma tribo exigiu encontrar um ponto de vista partilhado. Não fazia sentido continuar a falar isoladamente, cada um no seu canto; era necessário reunir-nos num espaço comum - ouvir, aprender, trocar ideias, partilhar, discordar, debater e alcançar um consenso. Precisávamos de estabelecer as bases para um entendimento comum. E isso exigiu conversa - muita conversa.


A parte mais importante dessas conversas foi garantir que o leque de perspetivas fosse o mais amplo possível. Procurámos deliberadamente diversidade e representatividade de todo o setor - envolvendo tanto aqueles que eram novos no meio como aqueles que já tinham uma posição estabelecida. Precisávamos de vozes experientes e também de vozes frescas. Era absolutamente essencial assegurar que todos fossem convidados, acolhidos no espaço, ouvidos, incluídos e que sentissem que tinham relevância. Não podíamos permitir que alguém se sentisse excluído; era necessário que todos estivessem a bordo, caso contrário, falharíamos.


O passo seguinte na nossa jornada foi identificar qual era a necessidade coletiva da nossa rede. Surpreendentemente, isto revelou-se simples, pois, depois de todas as conversas e discussões sobre as diversas necessidades, percebemos, de forma unânime, que tudo se resumia a uma prioridade: a necessidade de "Reconhecimento", acima de tudo.


Com esta constatação, tornou-se evidente que seria necessário investir tempo e dinheiro para garantir que esta ideia não se tornasse apenas mais uma ambição perdida. Alguém teria de conduzir este processo, e precisávamos de autorização da própria “rede” para procurar apoio financeiro para remunerar essa pessoa. Fizemos então a pergunta: “querem que procuremos financiamento para gerir esta rede?” No fundo, estávamos a pedir permissão para criar mais uma organização que competiria pelos já limitados recursos disponíveis. A resposta foi um sonoro SIM. Tínhamos um mandato.


O que descrevi até agora mostra como, juntos, criámos uma visão partilhada de como poderíamos promover a mudança. Estes foram passos cruciais no início da jornada. O próximo desafio foi descobrir como construir a nossa voz de forma coletiva e construtiva.


Foi neste ponto que precisávamos de vozes fortes. Falámos, ouvimos, partilhámos, conectámos, e continuámos a falar. Trabalhámos arduamente para incutir confiança e crença em cada pessoa associada à ISACS. Semeámos ideias em todos os lugares onde podíamos. Precisávamos que todos começassem a pedir reconhecimento, a exigir atenção, a procurar o destaque. Construir isto leva tempo, especialmente quando, como artista, muito do teu tempo foi passado a ser derrubado. Incentivámos cada vez mais pessoas a avançar, a preencher aquela candidatura, a pedir aquela residência, a contactar aquela pessoa e a pedir apoio. Escrevemos inúmeras cartas explicando o que o nosso setor podia fazer, o que já fazia, destacando o quão incrível era determinado artista ou o potencial que outro possuía. Falámos das nossas formas artísticas de maneiras novas, partilhámos informações sobre elas em todas as plataformas que conseguimos dominar, e recusámo-nos a ser invisíveis. Funcionou.


O setor cresceu, e o nosso entendimento sobre o setor também cresceu, assim como a nossa compreensão do nosso papel enquanto rede. Paralelamente, o entendimento das nossas formas artísticas por parte de pessoas fora do nosso setor também começou a crescer. Estávamos a encontrar a nossa linguagem, a nossa voz e o nosso lugar.


Mas nada permanece igual. Quando criamos mudança, as coisas inevitavelmente mudam, e a rede também deve estar preparada para mudar. O que começou como uma mão muito trémula e incerta transformou-se agora numa escada poderosa que exige constantemente ser alargada. Para manter a relevância da rede, esta deve continuar a crescer, a subir a escada e a evoluir juntamente com o setor.


Haverá contratempos, a escada poderá ocasionalmente oscilar, e as pessoas subirão a ritmos diferentes, mas o segredo é não deixar que a escada desabe por completo, mantê-la sustentada e continuar a olhar para cima e em frente.


A próxima geração de artistas não será igual à anterior. A escada trouxe-os a um ponto de chegada diferente, e a forma como moldarão o futuro da rede será, inevitavelmente, distinta, porque foi precisamente isso que procurámos alcançar: produzir mudança. Mas ainda não terminámos.


Como disse Fernando Sabino: “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”.


E, por isso, creio que ainda não chegámos ao fim. Ainda há necessidade de mudança, e sempre haverá. Continuemos a mudar.


Lucy Medlycott

Fundadora e atual diretora da ISACS - Irish Street Arts, Circus & Spectacle Network. Estudou Escultura no início da década de 1990, seguindo-se a cocriação e gestão de uma companhia de artes de rua durante 20 anos, com apresentações em várias partes do mundo. Lucy é uma defensora fervorosa do pensamento coletivo e comunitário, acreditando na força da colaboração como motor de mudança e inovação.

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